Nossa capacidade de comunicação em massa passou por diversas transformações ao decorrer das eras: A prensa de Gutenberg, os jornais, a invenção do rádio e posteriormente da TV. Mas o que todos esses meios que eram dominantes até o fim do século passado têm em comum é a unidirecionalidade e linearidade do conteúdo. Isto é: A incapacidade dos usuários (Espectadores, leitores, ouvintes) de escolherem a ordem dos eventos ou comunicarem de volta.
Porém, na década de 1990, uma nova forma de consumir conteúdo ganhava popularidade: A internet não só vinha reunindo várias formas de mídia (Textos, imagens e eventualmente até mesmo vídeos) como também oferecia atrativos antes inimagináveis, entre eles:
- A comunicação direta entre os usuários;
- A possibilidade de criar e publicar conteúdo, imediatamente disponível no mundo todo;
- A vasta quantidade de informações, antes disponíveis apenas nas melhores bibliotecas;
- E por fim: A possibilidade de escolha do conteúdo em si, não apenas do canal, mas o total controle do que, onde e quando consumir.
Hoje é quase impossível imaginar nossas vidas sem internet: Surgiram buscadores, redes sociais, aplicativos, streamings. Os equipamentos ficaram mais baratos, fáceis de usar e menores, ao ponto de podermos carregar a internet no bolso.
Não nos faltam opções, tanto que quando expostos a um universo imenso de informações, já não somos capazes de explorá-lo em sua plenitude e por isso surgiram os algoritmos de sugestões.
Assim a própria plataforma se encarrega de entender e separar as melhores opções de acordo com o seu gosto. Isso tudo em teoria, pois em última análise o interesse das redes é cativar o máximo da sua atenção, mantendo você online e ativo pelo período mais longo possível.
E para tal objetivo, podemos notar duas abordagens:
- Entregar freneticamente aquilo que te agrada, criando um ciclo de satisfação, fácil e infindo.
- Entregar o que há de mais revoltante, a fim de gerar grande repercussão através das discussões. Criando o desejo de envolver-se, debater e provar seu ponto.
Estes algoritmos funcionam surpreendentemente bem, prova disso é a popularização das redes que dominaram seu uso, enquanto outras não sobreviveram.
Uma ferramenta tão recompensadora, ganhou adesão imediata, tanto das plataformas, bem como dos usuários. Porém, levados pelo entusiasmo, perdemos mais uma vez nosso poder de escolha, e sequer nos demos conta.
Isso pois criou-se uma ilusão de liberdade: A transição entre a internet onde tudo precisava ser buscado e acessado manualmente, posteriormente compartilhado entre os amigos mais próximos, para um mundo online totalmente sugestivo, em que o conteúdo chega até você automaticamente; foi muito suave. Afinal: Eu escolho quando abrir o aplicativo, posso pular os vídeos por exemplo que me desagradam (Inconscientemente fornecendo dados para aprimorar o algoritmo), posso voltar, pesquisar etc…
Contudo todas essas escolhas são ilusórias: Se não estamos no controle do que nos é sugerido, então não controlamos de fato aquilo que consumimos. Consequentemente, perdemos o hábito de checar por novidades em um site específico, explorar, descobrir algo verdadeiramente novo, mesmo que impopular.
Esse novo ecossistema traz uma série de preocupações:
- Retroalimentação: Os produtores passam a escrever e gravar aquilo que é mais provável de ser sugerido, isto é: Tendências. Deixando de lado muitas vezes, a identidade própria, produzindo um conteúdo genérico e sem paixão.
- Risco de isolamento: Não seria maravilhoso se todos concordassem com você? Para alguns usuários essa é uma realidade, pois não são mais expostos a opiniões contrárias, criando um ambiente virtual confortável, contudo: Irreal.
- Risco de manipulação: Talvez o exemplo mais notório, sejam os anúncios que levam muitos a compras compulsivas: despertando necessidade e desejo ao sugerir todo tipo de conteúdo relacionado ao produto. Porém lembrando do ponto anterior, é possível também manipular opiniões políticas isolando a pessoa em um falso senso comum.
- Ofuscamento das informações: Tudo começa com um grande manual de instruções, que então é resumido para responder uma dúvida em um fórum, mas logo temos um vídeo explicando essa dica em apenas incríveis 30s. Quantos detalhes foram perdidos no processo? E agora na seção de comentários temos vozes indignadas, pois não obtiveram êxito no procedimento. Se ao menos soubessem que no manual sempre esteve especificado como agir em cada caso… Mas tudo bem: Ele será mais uma vez ignorado, melhor é seguir os achismos provenientes de tentativas e erros das respostas ainda mais duvidosas.
A internet é sim uma ferramenta incrível, pois pode ser usada das mais diversas maneiras. Cabe a nós porém ter a clareza de nossos objetivos e não nos distrairmos com sugestões.
Pesquisar, questionar e explorar são hábitos a serem mantidos para preservar nossa capacidade de escolha. Bem como produzir aquilo que é informativo, útil, ou ainda: de paixão. Ainda que impopular: Intencional e original.